Do grito de 'hosana' ao grito de 'crucificação'
09.04.2022 - 20:01:27 | 4 minutos de leitura
A entrada de Jesus em Jerusalém mudou o curso da história por causa do que aconteceria dias depois naquela cidade. Assim o conta o agostiniano recoleto Miguel Ángel Espinosa neste artigo
Frei Miguel Angel Espinosa | Site da Ordem | Ao longo da história, são lembrados certos povos que entraram em determinada cidade e que com sua entrada nessa cidade mudaram o rumo da história daquela cidade, pode-se pensar em Constantino que entrou em Roma pela ponte Milvian no ano 312 d.C. C. e da vitória que o senado conseguiu, ordenou a construção de um Arco do Triunfo; ou a importância dos portões e muralhas nas cidades medievais; o que dizer das conquistas como a de Tenochtitlan em 1521, onde até o local da "passagem de Cortés" é lembrado; ou a entrada das tropas italianas em 1870 na cidade de Roma para unificar a nação italiana. Cada entrada de certos personagens importantes em certas cidades mudou o curso de sua história.
Hoje a Igreja celebra a entrada de Jesus em Jerusalém. O que significou essa entrada na cidade de Jerusalém? Comemoramos e celebramos um acontecimento histórico no âmbito religioso com um olhar de fé. Até que ponto ocorreu a entrada de Jesus em Jerusalém na primeira metade do século I d.C. mudou o curso da história? Que efeitos sociais, religiosos e políticos essa entrada teve? Não é fácil saber os efeitos sócio-políticos que essa renda teve na cidade, pois as notícias do ano 30 ao ano 70 em Jerusalém são escassas. A entrada de Jesus em Jerusalém teve consequências para a história mundial, além da Jerusalém do primeiro século.
Sabemos que pouco depois de entrar em Jerusalém, a opinião pública sobre Jesus mudou radicalmente; a sociedade que o aclamava “hosana” na entrada da cidade logo o rejeitaria dizendo “crucifica-o”. Quais foram os fatores religiosos e políticos que levaram as massas contra Jesus? Por que a opinião pública mudou tão drasticamente em tão pouco tempo? Naquela época não havia tantos meios de comunicação como hoje, não havia jornais, não havia impressão nem papel. Que fatores políticos e religiosos influenciaram essa mudança de posição em relação à figura de Jesus? Que interesses as autoridades judaicas e romanas buscavam alcançar com a morte de Jesus?
Para responder a essa pergunta, pode-se levar em conta que as autoridades religiosas de Jerusalém se opunham à pessoa de Jesus e à sua mensagem, à violação de normas tão estritas como a guarda do sábado ou o simples fato de Jesus ter dado sinais de que testemunhavam que ele era o Messias era algo que as autoridades judaicas de seu tempo não aceitavam. Assim surgem acusações religiosas contra Jesus principalmente por dizer que ele era o Filho de Deus. As autoridades religiosas decidem matar Jesus e procuram falsas acusações para levá-lo à cruz, a traição de um de seus amigos, a prisão de Jesus à noite, o julgamento religioso e político. Que acusação poderia levar um homem inocente à pior das torturas? As autoridades religiosas de Jerusalém conseguiram convencer a autoridade romana de uma acusação, sendo o "rei dos judeus", este foi o motivo de sua crucificação.
Hoje os cristãos de todo o mundo lembram e celebram com um olhar de fé a entrada de Jesus em Jerusalém, mas não estamos celebrando o simples fato histórico, mas acima de tudo celebramos o que esse evento significou e suas consequências para nossa fé. A entrada de Jesus em Jerusalém responde a um plano de salvação que atravessa a história da humanidade, Jesus entra em Jerusalém para realizar a entrega de si mesmo para o perdão dos pecados da humanidade. A entrada de Jesus em Jerusalém só pode ser compreendida numa dinâmica de fé que implica a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Assim, a entrada em Jerusalém, que celebramos e repetimos com palmas e cânticos ao Filho de Davi, é o primeiro momento da passagem do Senhor pela história; trata-se da Páscoa do Senhor vivida na sua Paixão, Morte e Ressurreição; celebrada por cristãos de todos os tempos, de todo o mundo.
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