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Sermão XXVIII de Santo Agostinho

Notícias da Província

13.03.2022 - 05:00:00 | 9 minutos de leitura

Sermão XXVIII de Santo Agostinho

Agora devemos olhar e tratar daquela visão do Senhor no monte. Ele disse: ”Em verdade vos declaro: muitos destes que aqui estão verão a morte, sem que tenham visto o Filho do Homem voltar na majestade de seu Reino”. Então segue a passagem que acaba de ser lida. “Quando disse isso, depois de seis, tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu a uma montanha”

Esses três eram aqueles “alguns” de quem havia dito: “Há alguns aqui que não provarão a morte até que vejam o Filho do Homem em seu reino”. Não há menor dificuldade aqui. Pois aquele monte não era toda a extensão do seu reino. O que uma montanha para Aquele que possui os céus? Não apenas lemos, mas de alguma forma vemos com os olhos do coração. Ele chama de “seu reino”; em muitos lugares, chama de ‘reino dos céus”. Agora, o reino dos céus é o reino dos santos”. Pois os céus proclamam a glória de Deus”. E sobre esses céus é imediatamente dito no Salmo:

O dia ao outro transmite essa mensagem, e uma noite à outra a repete. Não é uma língua nem são palavras, cujo sentido não se perceba, porque por toda a terra se espalha o seu ruído, e até os confins do mundo...” (Sl 18,3-5)

Palavras de onde, senão dos céus? É também palavra dos apóstolos e de todos os pregadores fiéis da Palavra de Deus. Estes céus, portanto, reinarão junto com Aquele que fez os céus. Agora considere o que foi feito, para que pudesse ser manifestado.

O próprio Senhor Jesus brilhou como o sol; sua vestimenta tornou-se branca como a neve e Moisés e Elias conversaram com ele. O próprio Jesus realmente brilhou como o sol. Significando que é a luz que ilumina todo homem que vem ao mundo. O que este sol é para os olhos da carne, é Cristo para os olhos do coração. E o que é para a carne dos homens, será para seus corações. Sua vestimenta é a Igreja, pois, se o vestido não for sustentado por aquele que o veste, cairá. Dessa roupa, Paulo era como se fosse uma espécie de última fronteira, pois ele mesmo diz: “eu sou o menor dos apóstolos”. E em outro lugar: “Eu sou o último dos apóstolos.”

Agora, em uma vestimenta, a borda é a última e a menor parte. Portanto, como aquela mulher que sofria um fluxo de sangue foi curada quando tocou os limites do Senhor, assim a Igreja que veio dos gentios foi curada pela pregação de Paulo. Que maravilha a Igreja sendo representada por vestes brancas! Lemos no Profeta Isaias: “Embora seus pecados sejam tão escarlates, eu os farei brancos como a neve”. Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, de nada valem senão ao lado de Cristo, conversando com ele. A não ser que deem testemunho do Senhor, quem leria a Lei ou s Profetas? Observe quão resumidamente o apóstolo expressa: “Porque pela Lei vem o conhecimento do pecado; mas agora se manifesta a justiça de Deus sem a Lei” : eis o sol; “Sendo testemunhado pela Lei e pelos Profetas” : eis o brilho do sol.

Pedro vê isso, e como um homem saboreando as coisas dos homens, declara: “Senhor, é bom estarmos aqui.” Ele estava cansado da multidão; havia encontrado agora a solidão da montanha. Ali tinha Cristo, o Pão da alma. Deveria partir dali novamente para aquela vida de aflições, possuído daquele amor santo para com Deus e de uma boa conversação? Ele desejou o bem para si mesmo. Então acrescentou: “Se quiseres, façamos aqui três tabernáculos; um para ti, um para Moisés e um para Elias”. Ao que o Senhor não respondeu; mas, apesar disso, Pedro foi respondido. “Enquanto ainda falava, uma novem brilhante veio e os cobriu com sua sombra.” Ele desejou três tabernáculos; a resposta celestial mostrou-lhe que temos UM, que o julgamento humano desejava dividir. Cristo, a Palavra de Deus, a Palavra de Deus na Lei, a Palavra nos Profetas. Por que, Pedro, você procura dividi-los? Seria mais adequado juntar-se a eles. Procura três, entenda que são apenas um.

Quando a nuvem os cobriu com a sombra e de certa forma fez um tabernáculo para eles, “também saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado”. Moisés estava lá; Elias estava lá; no entanto, não foi dito: “Estes são meus filhos amados.” Pois o Filho Único não é a mesma coisa que nós, os filhos adotivos. Ele era o escolhido, aquele que a Lei e os profetas glorificavam. “Este é Meu Filho amado, em quem me comprazo;  ouça-o!” Vocês o ouviram nos profetas e na Lei. E onde não o ouviram? “Quando ouviram isso, caíram por terra”. Veja então que na Igreja nos é exibido o Reino de Deus. Aqui está o Senhor, aqui está a Lei e os Profetas. O Senhor como Senhor. A Lei em Moisés, a Profecia em Elias, são como servos e ministros. Eles são como vasos: Ele é como a fonte. Moises e os Profetas falaram e escreveram, mas quando se esvaziaram, foram cheios d´Ele.

Mas o Senhor estendeu sua mão e os levantou enquanto estavam deitados. E então, “não viram nenhum homem, exceto Jesus.” O que isto significa? Quando ouvimos o Apóstolo, temos: “Por enquanto, vemos através de um vidro obscuramente, mas o veremos face a face”. E “as línguas cessarão”, quando aquilo que agora esperamos e cremos vier. O cair por terra significa o morrer, pois foi dito à carne: “És pó e ao pó tornarás.” Mas quando o Senhor os levantou, era para significar a ressurreição. Após a ressurreição, qual é a lei para vocês? Que profecia? Portanto, nem Moisés nem Elias são vistos Somente Cristo: “No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Ele permanece com você “para que Deus seja tudo em todos.”

Moisés estará lá, mas não será mais a Lei. Veremos Elias também, mas não será mais o Profeta. A Lei e os Profetas apenas deram testemunho de Cristo, que convinha sofrer e ressuscitar dentre os mortos ao terceiro dia e entrar em sua glória. E nesta glória é cumprido o que prometeu aos que o amam: “Quem me ama será amado de meu Pai, e Eu o amarei”. É como se perguntasse: o que dará a ele como expressão do amor? “Eu me manifestarei a eles.” Ótimo, presente! Grande promessa! Deus não reserva para nós como recompensa nada que venha d`Ele, mas reserva a si mesmo. Ah! Como são avarentos! Por que o que Cristo promete não é suficiente? Parecem ricos; no entanto, se não têm Deus, o que terão? Outro parece pobre; mas, se tiver Deus, o que não terá?

Desce, Pedro: tu desejavas descansar no monte? Desça: “Prega a palavra, a tempo, fora do tempo; repreende, exorta com toda legitimidade e doutrina.” Suporta, trabalho duro, suporta sua medida de tortura para que possua as vestes brancas do Senhor, por meio do brilho e da beleza de um justo que trabalha na caridade. Pois quando o Apóstolo estava sendo lido, ouvíamos elogios à caridade: “Ela não busca o seu interesse”, já que dá o que possui. Trata-se de algo perigoso se não for feito da maneira correta. O Apóstolo, incumbindo os membros fiéis de Cristo após esta regra de caridade, declara : “Ninguém busque o que é seu, senão o de outrem.” Ao ouvir isso, a cobiça está pronta com seus enganos. Ela, em uma questão de negócios sob o pretexto de buscar os outros, pode defraudar um homem. “Não busque o que é seu, mas de outrem.” Refreie a cobiça. Que venha a justiça. Ouçamos para entender. É da caridade que se diz: “Ninguém busque o que é seu, senão o de outrem.” Agora, ó cobiçoso, se ainda resistir e torcer o preceito, deixe a cobiça do bem alheio. Perca o que é seu. Mas, como eu o conheço bem, desejar ter tanto o seu quanto o de outra pessoa. Cometerá fraude para ter o que é de outrem; submeta-se, perca o que é seu. Não desejas buscar o que é seu, mas tirar o que é de outro. Assim, não se sairá bem.

Ouve e escuta, avarento: o Apóstolo explica com mais clareza: “Ninguém busque o que é seu, senão o de outrem”. Ele diz de si mesmo: “Não buscando meu próprio lucro, mas o lucro de muitos, para que sejam salvos.” Pedro ainda não entendia isto quando desejava viver no monte com Cristo. O Senhor ainda estava reservando aquilo para ele após a morte. Mara agora Ele mesmo diz: “Pedro, desce para trabalhar na terra, para servir na terra, ser desprezado e crucificado na terra. A Vida desceu, para que pudesse ser crucificado; o Pão desceu, para que tivesse fome; o Caminho desceu, para que a vida se cansasse na busca do caminho; a Fome desceu, para que pudesse ter sede; e te recusas a trabalhar? ‘Não procure o que é propriamente seu`. Tenha caridade, pregue a verdade. Assim, subirás para a eternidade onde encontrará segurança”

Retirado de "Meditações para a Quaresma: Amando a Jesus Cristo. Santo Afonso de Ligório e outros Santos da Igreja" p 249-253

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