"Gratidão, entrega, partilha, compromisso, união, fraternidade, amor...a vivência na prática do ser “uma só alma e um só coração dirigidos para Deus”

Rosana pucarelli |  Definir em uma única palavra a experiência vivida naqueles incríveis cinco dias. Este foi um dos últimos desafios que recebemos durante o Encontro dos Presidentes dos Conselhos Nacionais das Fraternidades Seculares Agostinianas Recoletas, em Roma. Já era noite adiantada, de uma sexta feira longa, de muito trabalho, deliberações e decisões. Na mesma singela capela que, em poucos dias, se tornou tão nossa a partir da oração de abertura, onde não apenas entregamos os trabalhos vindouros mas também os nossos corações com todas as suas expectativas, receios e esperanças e que nos recebia a cada despertar e a cada anoitecer, pouco a pouco, ia se ouvindo as tais palavras pedidas: “gratidão”.. “entrega”... “benção”... “partilha”... “compromisso”...  Por estarem tão cheias de tudo o que ali vivenciamos, tinham um significado que em nada se parecia “uma” palavra, mas que ultrapassava o racional e trazia junto de si também um gosto de despedida. E as palavras seguiam saindo de nossos corações: “compromisso”... “chamado”... “união”... “comunhão”...  “fraternidade”... “amor”...  

Não havia como não se lembrar naquele momento do caminho trilhado dia a dia. Os olhares ainda tímidos se cruzando aos subirmos no ônibus que nos levaria a casa de retiro, verdadeiro local de paz e recolhimento.  Através das primeiras saudações, a tentativa de descobrir quem era quem, qual idioma falava, de que país vinha, quantos de cada pais. Ao chegarmos na Casa de Retiro, uma primeira surpresa, fomos recepcionados, no hall da recepção, pelo nosso Padre Prior, Frei Miguel Miró Miró, que gentilmente nos acolhia e com sua delicadeza já acalantava os nossos corações nos dando uma pequena mostra do que viveríamos naqueles dias em comum e do maior de todos os aprendizados, que veio do testemunho e da disponibilidade daqueles 25 participantes, entre frades e leigos, oriundos de 12 países diferentes: diferentes línguas e culturas, diferentes caminhadas e experiências, diferentes idades de vida e de caminhada na fé que se fizeram um no amor e no coração revelando que o ser “uma só alma e um só coração dirigidos para Deus” não era apenas uma linda frase, um lindo sonho de nosso Pai Santo Agostinho.  Experiência difícil de expressar, de relatar ou registrar, apenas compreendida e reconhecida no mais profundo dos nossos corações.

Na manhã da terça feira, Frei Javier Monroy cuidou de nos dar uma visão geral do que aconteceria a cada dia: análise da realidade das FSAR no mundo, iluminação dessa realidade com o que nos diz a Igreja e a OAR e, finalmente, quais caminhos percorrer em unidade a partir deste Encontro. Era hora dos nossos olhos e ouvidos se abrirem. Através das apresentações de cada país fomos conhecendo, também, um pouco mais dos irmãos ali presentes e fomos percebendo melhor como as FSAR acontecem mundo afora de forma a podermos elencar os maiores desafios e, juntos, pensarmos no seu amanhã. E, neste momento, um entendimento do nosso chamado ali, transcender o particular, não deveríamos pensar apenas em nossas comunidades locais ou nas necessidades do nosso país, mas sim, pensar nas necessidades da FSAR no mundo, em seu caminhar e em sua continuidade. Quanta responsabilidade!  

Em meio às sessões em nossa sala onde juntos deliberávamos, recebíamos as formações necessárias e as orientações para o trabalho nos grupos, momentos de companheirismo e fraternidade nas pequenas lembranças ofertadas, no bate papo no café, na troca durante as refeições e das partilhas e cantoria ao final do jantar.  Vivência esta que foi fundamental para celebrarmos como família e, em família, o Dia da Recoleção de forma tão especial. E aí, chegávamos à segunda surpresa do Encontro: era dia de festa e vivência de comunidade. O local escolhido já revelava o carinho com que foi planejado e o quão inesquecível seria. Bem cedo, o grupo já não mais tímido, embarcava no ônibus rumo ao Vaticano, onde passaríamos a manhã do dia 05 de dezembro. Nossa celebração eucarística, presidida pelo Prior Geral, aconteceu numa das capelas na Tumba de São Pedro, que emoção! Só isso já bastaria porém as comemorações se seguiram e era hora de almoçarmos. Vivenciamos a refeição em unidade com as comunidades agostinianas recoletas de Roma, na Casa da Via Sistina. E, para fechar o dia com chave de ouro, nossa oração das vésperas, foi na Capela de Santa Mônica, na Basílica de Santo Agostinho. Não preciso dizer que embarcamos, de volta no ônibus maravilhados com as bênçãos de Deus e todo o carinho da OAR para conosco.

Ainda sob a emoção vivida na Festa da Recoleção, chegávamos ao último dia do nosso Encontro, às deliberações finais, que foram devidamente apresentadas ao Prior Geral e seu secretariado e à Eucaristia de Encerramento do Encontro onde no final ouvimos o ressoar daquelas palavrinhas: “gratidão”.. “entrega”... “benção”... “partilha”... “compromisso”... “compromisso”... “chamado”... “união”... “comunhão”...  “fraternidade”...  “amor”...

Antes da despedida oficial, a descoberta de que o nosso último e maior desafio ainda estaria por vir, a missão de levarmos aos nossos países e às nossas comunidades tudo o que vivemos naqueles cinco dias e seguirmos caminhando com alegria e esperança rumo à Jerusalém Celeste. Santo Agostinho, rogai por nós!