Os Agostinianos Recoletos e a Diocese de Franca – Parte 1
02.02.2022 - 21:00:00 | 9 minutos de leitura
Site Diocese de Franca | Frei Afonso Garcia | O dia 02 de fevereiro marca a chegada da Ordem dos Agostinianos Recoletos à Franca, em 1918. A pedido da Portal Diocesano Frei Afonso de Carvalho Garcia (OAR) compartilha um pouco desta história.
Antecedentes históricos e chegada ao Brasil
Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, viveu nos séculos IV e V, no norte da África. Ali também fundou mosteiros, para os quais escreveu uma Regra, estabelecendo um carisma e espiritualidade que se fazem presentes na história da Igreja nestes dezessete séculos que nos separam ou nos unem a ele, como caminho de santidade e serviço à Igreja para homens e mulheres que se sentem chamados a seguir Cristo ao estilo de Agostinho.
Dentre as inúmeras ordens, congregações e institutos que vivem a espiritualidade agostiniana encontra-se a Ordem dos Agostinianos Recoletos, que celebrou no dia 05 de dezembro de 2020, 433 anos de existência. Como tudo no Reino de Deus, a Recoleção nasceu pequenina, qual semente de mostarda, apenas algumas casas dentro da Ordem de Santo Agostinho, na Espanha, para frades que queriam levar uma vida mais austera e recolhida (daí recoleção, recoletos), no espírito da reforma católica do século XVI. Como a semente da parábola, pela graça de Deus, este movimento foi crescendo passando de casas a uma província, depois congregação e, finalmente, Ordem, tornando-se uma árvore frondosa, presente hoje em vinte e dois países, em quatro continentes.
Digno de nota é o imenso trabalho de evangelização da Congregação, além da Espanha, nas Ilhas Filipinas, desde os seus albores. No entanto, em 1896 começa a cobrir-se de nuvens negras o ambiente nas Ilhas Filipinas, onde se desencadeou uma revolução com vista à independência da colônia, com grande perseguição também à Igreja. O clímax da revolta aconteceu em 1898, quando a violenta perseguição contra a Igreja deixou vinte e oito vítimas entre os religiosos recoletos, e obrigou a quase totalidade dos sobreviventes a deixarem aquele campo missionário agostiniano recoleto, mais de três vezes secular.
Tudo fazia supor que a Congregação recebera um golpe fatal. No entanto, a morte aparente gerou nova vida. E novos caminhos o Senhor abriu para os missionários obrigados a abandonar as Filipinas. A Divina Providência levou para junto dos superiores vários bispos de terras longínquas, os quais descortinaram para suas atividades o imenso continente sul-americano.
Um destes encontros se deu entre o procurador geral da Congregação em Roma, o Frei Henrique Pérez e o bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte da Silva, que se encontrava na Cidade Eterna e procurava uma solução para o problema da escassez de clero na sua vasta diocese. O encontro propiciou a descoberta das preocupações de ambos e deu início a conversações entre o prelado brasileiro e os superiores da Congregação. O resultado dos entendimentos foi a resolução de atender às necessidades do prelado e aos desejos dos religiosos.
No dia 28 de janeiro de 1899, partia de Barcelona o primeiro grupo de frades destinados às novas fundações no Brasil. Eram catorze frades, tendo como superior o Frei Mariano Bernard. Depois de tocar os portos de Funchal (Ilha da Madeira), Dakar (África) e Rio de Janeiro, no alvorecer do dia 19 de fevereiro o navio atracava no porto de Santos. De Santos a viagem prosseguiu para São Paulo, depois para Ribeirão Preto para chegar finalmente à então sede da diocese de Goiás: Uberaba. Começava assim a história dos agostinianos recoletos no Brasil, mais especificamente no Triângulo Mineiro.
Em Ribeirão Preto e Franca
A fundação em Ribeirão Preto obedeceu a um traço providencial de Deus. Quando o segundo grupo de religiosos vindos da Espanha passou por esta cidade, aos 19 de maio de 1899, na sua viagem para o Triângulo Mineiro, foram acolhidos pelo pároco Pe. João Nepumoceno para um pernoite. Mas como ele se encontrava enfermo, pediu ao superior que designasse um dos religiosos para substitui-lo no trabalho até seu restabelecimento. Foi designado o Frei Santo Ramírez, que assim iniciou sua ação na cidade e que duraria mais de trinta anos, aí falecendo com fama de santidade.
Considerando a importância da cidade e sua posição no caminho para o Triângulo Mineiro, o Frei Mariano decidiu pela fundação de uma casa religiosa, o que aconteceu no mês de setembro e, para isso, se alugou uma casa na Rua Barão do Amazonas. Com esses primórdios tão humildes, teve início uma história que já alcança mais de 100 anos com páginas repletas de testemunhas de intenso trabalho, de vida exuberante pela glória de Deus, pelo bem da Igreja e pelo renome da Ordem.
Em 1916, por várias razões, chegaram ao fim as atividades da Ordem no Triângulo Mineiro, o que ofereceu a oportunidade e elementos para a fundação de mais casas no Estado de São Paulo, mais precisamente na diocese de Ribeirão Preto, recém erigida em 1908. Ainda em 1916 a Ordem assumiu a administração das paróquias de Guaíra, Sant’Ana dos Olhos D’Água (hoje Ipuã) e Morro Agudo.
Dom Alberto José Gonçalves, primeiro bispo de Ribeirão Preto, havia prometido confiar à Ordem todas as paróquias do tronco da Estrada de Ferro Mogiana. Não podendo cumprir sua promessa, ofereceu-lhes a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Franca. A 02 de fevereiro de 1918, chegavam a Franca os padres Frei Gregório Gil, como superior e pároco, Frei Timoteo Miramón, Frei Xisto López e o Irmão Esteban Garralda. A permanência dos religiosos se consolidou em janeiro de 1919 através do convênio com a autoridade diocesana.
A gripe espanhola de 1918 foi a prova de fogo, quando os religiosos provaram sua entrega à causa do Evangelho, prestando socorros espirituais e materiais aos vitimados pela epidemia. Entregaram-se a um intenso apostolado na cidade, onde, além da matriz, atendiam o bairro da Estação, a Igreja de São Benedito, as comunidades religiosas do Colégio Nossa Senhora de Lourdes e Colégio Champagnat dos Irmãos Maristas e de um asilo. Estendiam seu zelo aos então distritos de São José da Bela Vista, Restinga e Ribeirão Corrente.
Os treze anos de paroquiato de Frei Gregório Gil foram marcados pelo seu profundo zelo sacerdotal e pelos empreendimentos materiais. Os seus oito sucessores, em mais de 50 anos de história, seguiram-lhe as pegadas na atividade pastoral e na promoção do progresso material. Deixando a paróquia em abril de 1972, por motivo da criação da diocese de Franca, ficaram como testemunho desse ingente trabalho uma comunidade católica piedosa e formada pela evangelização, além de inúmeras obras materiais, entre as quais se destacam: a igreja matriz totalmente terminada no seu interior e no exterior, pois, ao chegarem os agostinianos recoletos estava apenas coberta sem qualquer acabamento; a casa paroquial, um Seminário, asilo e orfanato, um centro de ação social, o jornal “O Aviso de Franca”, três igrejas na cidade, capelas, etc.
Expansão em Franca e região
Em 1923 os agostinianos recoletos assumiram a administração da paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, de Patrocínio Paulista, sendo o primeiro pároco Frei Xisto López. O território paroquial abrangia também o atual município de Itirapuã, cuja igreja dedicada a Nossa Senhora Aparecida foi elevada a Matriz em 1968. A paróquia de Itirapuã foi entregue à diocese em 1981 e a de Patrocínio Paulista, em 1992.
No período de 1940 a 1948, a Ordem ampliou seu campo de ação na diocese de Ribeirão Preto, incumbindo-se de várias paróquias. Citamos apenas aquelas que passariam a pertencer à futura diocese de Franca.
A paróquia de São José da Bela Vista, anexa à paróquia de Franca, foi atendida pelos frades, nos finais de semana, de 1918 até 1940, quando a partir de primeiro de janeiro deste ano foi assumida como Casa da Ordem, sendo seu primeiro pároco Frei Dionísio Hermoso. Os frades aí permaneceram até 05 de janeiro de 1964.
Aos 24 de abril de 1946, o Seminário de Franca (cuja história será referida à frente) assumiu a direção da paróquia de Nossa Senhora da Abadia, em Cristais Paulista, com o compromisso de atendê-la aos finais de semana. O território paroquial abrangia dois municípios: o de Cristais e o de Jeriquara. Desde abril de 1974, a paróquia foi desligada juridicamente do Seminário, embora seus párocos continuassem quase todos residentes no Seminário, outros residentes em Nossa Senhora das Graças. A paróquia foi entregue à diocese no dia 1º de abril de 2000.
Aos 23 de julho de 1946 foi confiada à Ordem a paróquia de Pedregulho, que exigia de seus pastores uma dedicação total, pois suas atividades se estendiam à paróquia anexa de Rifaina e às capelas de Alto Poré, Igaçaba, Alto da Serra e Alto Lageado. No dia 03 de março de 1974 foi entregue ao clero diocesano.
A paróquia de Santa Rita de Cássia de Igarapava foi confiada à Ordem aos 27 de abril de 1947, estando sob o zelo apostólico dos recoletos até 20 de maio de 2020. Abrangia também as cidades de Aramina e Buritizal.
Também na cidade de Franca, o crescimento populacional e territorial estava a exigir o desmembramento da única paróquia existente em todo o município. Atendendo a esses fatores, Dom Manoel da Silveira D’Elboux criou a paróquia de São Sebastião aos 06 de novembro de 1948, com sede na igreja do mesmo orago no bairro da Estação, igreja iniciada em 1922 pelo saudoso Frei Gregório Gil. O primeiro pároco, Frei Andrés Aguirre, foi empossado no cargo aos 19 de dezembro. Recebeu como campo de apostolado, além da parte da cidade com a matriz e a igreja de São Benedito, os então distritos de Restinga e Ribeirão Corrente e as capelas rurais de Bom Jardim, Caetitu e outras. Em 1968 deu-se a criação da paróquia de Santo Antônio. Os superiores entraram em entendimento com o bispo diocesano de Ribeirão Preto e a Ordem passou a atender a paróquia recém-criada, entregando a de São Sebastião. A paróquia de Santo Antônio esteve sob os cuidados dos recoletos até o ano 1992.
Em 1953, a Ordem recebeu um régio presente em Franca. Tratava-se da igreja de Nossa Senhora das Graças, erguida pelo casal Nicola e Olinda Archetti, como cumprimento de uma promessa. Foi inaugurada solenemente aos 27 de novembro, dia da padroeira. Quanto ao aspecto jurídico funcionou como igreja anexa à paróquia de Nossa Senhora da Conceição, tendo sido elevada à paróquia em 1968, seguindo até os dias atuais como presença da Ordem na cidade.
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